segunda-feira, 1 de julho de 2013

NÃO sou evangélico!


Por Pastor Walmir Andrade

Pode a primeira vista parecer estranho que este escritor, que lidera uma comunidade cristã pós reformada, faça tamanha afirmação. Por isso, antecipo-me, antes que alguém pense ou afirme que apostatei da fé evangélica, que continuo firme nas minhas convicções e que tal abordagem é uma reflexão da descaracterização do termo evangélico. Pois o que temos aí fora é um evangeliquês popular e mercantilista que se apresenta na mídia como Igreja Evangélica e afeta os genuínos evangélicos que não têm se corrompido com os sofismas deste mundo vil e enganoso.

Eu tenho a alegria e o contentamento de ser pastor batista e líder de uma comunidade que procura viver princípios e valores incorruptíveis. Entretanto, muitas coisas têm acontecido para que hoje eu escreva sobre esta temática. Muitas coisas horrendas são praticadas em nossos dias por aqueles que, garbosos, têm prazer em ostentar o nome de “EVANGÉLICOS”. Será que o problema estará na terminologia? Com toda certeza, não é esse o problema. O termo “evangélico” está profundamente ligado ao Evangelho de Jesus Cristo. Originalmente, ser evangélico era ser adepto, seguidor e amante do Evangelho do Senhor Jesus Cristo. Há pouco tempo, ser evangélico e ser cristão eram quase sinônimos, mas a ascensão em segmentos sociais produziu nos arraiais evangélicos ações nocivas ao testemunho e à definição do termo enquanto pessoa e enquanto comunidade.

Quero elencar alguns fatores sobre a temática proposta neste artigo, sem contudo ofender e citar nomes de grupos ou de pessoas. Ao afirmar neste artigo que não sou evangélico, não estou a negar meus valores e nem tampouco os princípios que defendo com tanta avidez na minha comunidade de fé. Antes estou a negar meu envolvimento com a conotação que o termo tomou atualmente. Estou a negar, sim, minha anuência àquilo que é tão comum entre as “diversas igrejas e correntes protestantes”.

Não sou “evangélico” e nem quero fazer parte de um grupo denominado “evangélico”, se não for para protestar em nome da verdade, da justiça e da santidade. Quando olho para alguns “evangélicos” vejo que estes relegaram a história da Reforma Protestante à categoria de acontecimentos pertencentes a uma espécie de “arquivo-morto”. A grande maioria não sabe quem foi John Huss, Lutero, Calvino, ou nem mesmo tem ciência de algum movimento que promoveu a grande transformação na igreja do Senhor Jesus. Vivemos dias que nem sequer sabem o que foi a Reforma, os fatores e as conseqüências deste movimento do século XVI, bem como seus desdobramentos históricos. Sem história, sem valores e sem princípios não existe cristianismo, logo não existe evangelho, apenas movimentos religiosos.

Não sou “evangélico” porque os “evangélicos” de hoje abandonaram a Bíblia para seguirem seus próprios corações pecaminosos. Abandonaram o porto seguro da Palavra de Deus para se fundamentarem na mais imunda espécie de corrupção. As vezes me pergunto quem crerá no evangelho do Senhor Jesus se os “evangélicos” de hoje estão mais preocupados em atender a religiosidade do terceiro milênio que é mística, esotérica, e consumista movida por uma teologia da prosperidade e do triunfalismo sem fim, ao invés de anunciar ao mundo e a todos os homens, em todos os lugares, que a busca pela liberdade tão sonhada por estes tem levado-os a uma degeneração e depravação moral.

Não sou “evangélico” porque não concordo com o envolvimento de lideranças evangélicas na vida política do Brasil. Por isso, e somente por isso, quero expressar, nestas simples linhas, minha opinião sobre este fenômeno nauseante que é o envolvimento de alguns líderes das igrejas evangélicas nesse carnaval luciferiano, vaidoso, orgulhoso, que está entulhando nossas igrejas de homens amantes de si mesmos, manipuladores e interesseiros, que estão em busca do poder terreno e dos benefícios nada cristãos que eles oferecem.

Para encerrar, quero deixar claro que não sou radicalmente contra o envolvimento de evangélicos com a política, mas só vou acreditar nesses que se dizem “representantes do povo de Deus”, quando os mesmos se levantarem veementemente contra a corrupção que está entranhada em todos os níveis e poderes da política brasileira, e se abstiverem de participar de negociações espúrias, que só trazem prejuízos ao povo brasileiro e promove a perpetuidade das maldades políticas e das diferenças sociais que nos fazem sofrer tanto.
Agora, quando olho para o nosso país e vejo o crescimento de evangélicos, seria para vibrar, no entanto, o que poderia trazer grande alegria na verdade gera um sentimento de indignação. “Por quê?”, alguém pode me perguntar. Eu respondo afirmando que Evangélico no Brasil virou sinônimo de movimento financeiro religioso, algo meio sem ética – ou totalmente, se preferir – em que se rouba e depois ora pedindo perdão a Deus. O “mensalão” de Brasília revela não apenas o que há de pior na política brasileira, mas algo cheira mal na fé evangélica também.
A verdade é que hoje a cristandade está com a síndrome de Geazi, servo do profeta Eliseu (2Reis 5:20-27). Correndo atrás dos tesouros de Naamã, a cristandade gananciosa (2Reis 5:20) mente e camufla situações para justificar seus pecados (2Reis 5:22); pior, esconde o pecado (2Reis 5:24), mostrando a hipocrisia em que vivem (2Reis 5:25). Desta vez foi a gota d’água, ver um pastor, que é deputado distrital – o que já é incoerente, pois ou é pastor ou deputado – e o presidente da Câmara orando e pedindo a Deus pelo gestor das fraudes, chamando-o de “instrumento de bênção para nossas vidas e para a cidade”. Para a cidade de Brasília eu não sei, mas parece que o gestor financeiro do mensalão foi uma “bênção” para outros.
Por isso não me chamem de “evangélico”, pois este termo implicava numa atitude baseada no Evangelho de Cristo, mas hoje isso virou um termo jocoso e maldoso. Não quero mais saber deste evangelicalismo sem ética, sem doutrina e que está mandando milhares para o inferno. Chega deste evangelho de faz-de-conta, em que Jesus é apresentado como um “amigão”, mas nunca como Senhor. Chega deste “evangelho” sem cruz, sem vergonha e mentiroso. Com certeza, Pedro está certo quando afirma pelo Espírito Santo: “… Tais homens têm prazer na luxúria à luz do dia… enganam os inconstantes e têm o coração exercitado na ganância. São malditos. Eles se desviaram, deixando o caminho reto e seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça” (2Pedro 2:13-15).
Aqui não é um julgamento. Que ninguém me venha com a falácia de “Não julgueis para não serdes julgados”, pois isso é um simplismo de que se aproveitam muitos daqueles que são desonestos e usam a Bíblia para justificar suas ações. Diante da injustiça não podemos nos calar, seja ela de um evangélico ou não. Não me chamem de evangélico, pois não quero este evangelho mercadológico. Quero apenas ser cristão, quero apenas seguir a Cristo e viver para Ele.

extraído do site: http://www.sibapa.net/nao-sou-evangelico/

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