quarta-feira, 8 de maio de 2013

Os conferencistas-palhaços e as igrejas-circo

Faz alguns anos que, em um noticiario vespertino semanal, vi pela primeira vez um picadeiro dentro de uma igreja. A matéria falava acerca de alguns padres revolucionários que se vestiam de palhaço para atrair a atenção dos "fiéis". Lembro que um deles improvisou um picadeiro junto ao púlpito e andava na corda bamba todos os domingos pela manhã. Em uma outra igreja, um clérigo dava "saltos mortais" antes de proferir a homilía, e é obvio que a frequencia aumentou consideravelmente.
Não é de hoje que a igreja católica usa estratégias estranhas para atrair discípulos para si, e qualquer um que já foi católico sabe que o que atrai as pessoas para as quermesses não é o sermão do padre e sim os grupos de axé, forró e pagode que se apresentam nessas "solenidades", além – é claro – dos CDs piratas, do churrasquinho de gato, a cerveja gelada, o tiro ao alvo e todo tipo de entretenimento que é oferecido nas barraquinhas. Mas o que me entristece não é apenas a apostasia do catolicismo romano ou o aumento dessa apostasia nos círculos católicos, e sim a percepção de que há muito que o mesmo vem ocorrendo nos círculos evangélicos. O sermão expositivo tem perdido a importancia nas igrejas e nossos altares tem sido literalmente profanados. O púlpito já não é – como dizia João Calvino – o trono de Deus de onde o Ele governa a igreja, agora ele virou palco para apresentação dos auto-denominados "levitas" e suas músicas de auto ajuda que mais exaltam ao homem que a Deus. Basta prestar atenção na letra dos supostos "hinos" para perceber que o foco central não é Cristo, e sim o crente "forte, corajoso, destemido, ungido, protegido", etc.,etc.
Embora ainda não tenha visto nenhum pastor vestido literalmente de palhaço como ocorria com os padres naquele noticiario, tenho visto muita gente fazendo palhaçada na igreja. Parece que o requisito para ser um bom pregador mudou: agora a vida de oração e o conhecimento das Escrituras não são o fator preponderante na ordenação de um ministro; é o carisma e a capacidade de interagir com o auditório.
Fico realmente absorto com a cara-de-pau desses pseudo-pregadores avivalistas, que são capazes de passar uma hora completa sem citar nenhum texto bíblico. Eles usam frases como "levanta a mão e dá glória", "profetiza pro teu irmão", e o famoso chavão "quem tem promessa não morre", dissimulando assim a sua falta de conteúdo. Certa vez eu passei duas horas e meia sentado ouvindo um pregador imitar um leão: a cada cinco ou dez minutos ele dava uma "roncada" no microfone – com que finalidade, não sei. O mais triste de tudo foi ver muitos obreiros da casa compromissados com a ortodoxia, com bom conhecimento bíblico e bom testemunho entre os irmãos, sentados na tribuna como se fossem uma peça sem valor, enquanto o pregador (que ninguém sabia de onde era, um tipo meio Melquisedeque), sem nenhuma dessas qualificações, fazia a festa na "nossa casa". Havia mais de cinco mil pessoas presentes, o que seria uma ótima oportunidade para apresentar o Cristo crucificado, ressurreto, glorioso e Salvador, mas o "pregador" passou todo o tempo repetindo chavões, de modo que quando foi feito o apelo, ninguém foi a frente receber a Cristo. Que feio!
Embora ainda jovem, sinto que sou parte de uma geração de pregadores que faz parte do passado, jurássicos, dinossáuricos, pré-diluvianos. Infelizmente os pregadores expositivos, que pregam todo o conselho de Deus e que primam por uma boa ortodoxia, e consequentemente uma melhor ortopraxia, são peças de museu. Por outro lado, assim como a droga – que é facilmente encontrada na esquina – os pregadores shows são abundantes no mercado. Sim, eu disse mercado, porque a indústria do entretenimento evangélico tem movimentado milhões. Os pregadores do momento, com suas roupas extravagantes e suas mensagem esquisitas cobram o olho da cara para apresentar suas performances, e o dinheiro que poderia ser investido em novas congregações, em salário para os obreiros locais ou em ajuda missionária acaba indo parar na mão desses irresponsáveis pregadores de modismos.
AINDA não soube de nenhuma igreja evangélica que tenha armado um picadeiro no púlpito literalmente, figuradamente posso dizer que tem muito pregador palhaço por aí andando na corda bamba, fazendo contorcionismo exegético e tratando levianamente um tão "respeitável público", o povo de Deus. Assim como nas quermesses que eu frequentava antigamente, nos nossos congressos é possivel encontrar grupos de axé, forró ou de pagode, além das famosas bararquinhas com seus CDs piratas e churrasquinho de gato. Só falta mesmo algum "irmão maluco" vendendo cervejinha pra moçada. Esse é o triste quadro do protestantismo brasileiro. Como diria o telejornalista Boris Casói: "Isto é uma vergonha".


do Blog Púlpito Cristão / 2008

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